O fim de semana nos Estados Unidos foi marcado por três eventos que evidenciaram as profundas tensões políticas do país. O assassinato de uma parlamentar democrata em Minnesota, protestos violentos em Los Angeles e um desfile militar com baixa adesão em Washington expuseram o clima de polarização que domina a sociedade americana.
Parlamentar democrata é assassinada; suspeito detido após 43 horas
Vance Boelter, de 57 anos, foi detido no domingo como principal suspeito do assassinato da deputada estadual Melissa Hortman e seu marido Mark. O crime ocorreu entre sexta-feira e sábado em Minnesota, elevando ainda mais as tensões políticas no país.
A polícia encontrou no veículo do suspeito uma pistola de 9 milímetros, três fuzis AK-47 e uma lista com cerca de 70 alvos potenciais. Entre os nomes estavam políticos, ativistas de direitos humanos e funcionários de clínicas de aborto.
Boelter também feriu o senador estadual John A. Hoffman e sua esposa, mas ambos sobreviveram. O suspeito usava uniforme falso de policial e foi capturado armado após uma operação que mobilizou mais de cem policiais e 20 equipes da SWAT.
Lista incluía clínicas de aborto como alvos
A descoberta da lista de alvos surpreendeu as autoridades por incluir provedores de serviços de aborto e centros de saúde. A suspeita é de que Boelter planejava ataques contra essas instituições em Minnesota.
“É inaceitável que as pessoas de nossa comunidade de obstetras e ginecologistas tenham que trabalhar e viver com medo”, declarou a American College of Obstetricians and Gynecologists em comunicado oficial.
A entidade Planned Parenthood North Central States informou que estava trabalhando com a polícia local para aumentar patrulhas. “Nossas portas permanecerão abertas”, disse Ruth Richardson, presidente executiva da organização.
Governador pede fim da violência política
Tim Waltz, governador de Minnesota e ex-candidato à vice-presidência na chapa de Kamala Harris, usou o caso para criticar a escalada da violência. “Vemos a violência emergir em nosso país. Isso não pode ser a forma de lidar com nossas diferenças”, declarou em entrevista coletiva.
O governador revelou que uma das filhas da deputada agiu de forma “heroica” ao ligar para a polícia durante o ataque. Segundo ele, ela “salvou inúmeras vidas” com sua ação rápida.
Waltz aproveitou para mandar um recado aos aliados de Donald Trump: “Falem com seus vizinhos, e não brigam. Deem as mãos”. Ele pediu que a “decência” volte à política americana.
Desfile militar de Trump registra baixa adesão
Em Washington, o presidente Donald Trump realizou um desfile militar no sábado para celebrar os 250 anos do Exército americano. O evento, que coincidiu com o 79º aniversário de Trump, ficou aquém das expectativas.
Segundo a agência Associated Press, o público ficou abaixo da estimativa de 200 mil participantes. Grandes áreas vazias foram observadas entre os espectadores próximos ao Monumento de Washington.
Doug Landry, ex-integrante da equipe de Joe Biden, esteve presente e criticou a organização. “Foi legitimamente o evento de grande público mais mal executado que já vi”, declarou em posts no X (ex-Twitter).
Custos elevados e infraestrutura inadequada
As forças armadas estimam que o desfile custou entre US$ 25 milhões e US$ 45 milhões, incluindo reforço das ruas. A infraestrutura para os milhares de presentes mostrou-se inadequada, com alimentação disponível apenas em poucos food trucks.
O trajeto seguiu do Monumento a Washington até a Casa Branca, onde manifestantes contrários ao presidente também se reuniram. O público estava dividido entre apoiadores de Trump, famílias de militares e manifestantes anti-Trump.
Muitos espectadores deixaram o local antes do término das apresentações militares. O clima desfavorável e a possibilidade de trovoadas podem ter influenciado nos espaços vazios.
Protestos em Los Angeles terminam em confronto
Em Los Angeles, milhares de pessoas protestaram pacificamente contra Trump durante horas no sábado, em manifestação apelidada de “Sem Reis”. O evento foi a maior manifestação em mais de uma semana de marchas contra as operações anti-imigração.
A manifestação começou pacífica, com atmosfera de festival de rua, música e balões. No entanto, a polícia interveio repentinamente para dispersar os manifestantes, causando confusão e indignação entre os presentes.
A polícia usou gás lacrimogêneo e granadas de efeito moral horas antes do toque de recolher noturno. Uma porta-voz policial informou à KTLA que um “pequeno grupo” começou a atirar pedras e garrafas contra os policiais.
Mobilização militar incomum na cidade
Os confrontos ocorreram após mais de uma semana de protestos contra as operações de imigração que abalaram Los Angeles. Trump enviou 4.000 soldados da Guarda Nacional e 700 fuzileiros navais, uma mobilização militar extremamente incomum em solo americano.
As autoridades locais afirmaram que a situação estava sob controle e criticaram a decisão presidencial. Os manifestantes marcharam gritando “Impeachment para Trump!” e carregando bandeiras dos EUA, algumas invertidas em protesto.
“Esta não é uma zona de guerra”, declarou à AFP a manifestante Jennifer Franks, carregando seu filho pequeno. “Não há motivo para os militares serem chamados aqui”, completou.